Mello acha exagerada a forma como o ministro
do STF tem conduzido o caso do deputado federal Daniel Silveira.
O ministro Marco Aurélio Mello, aposentado do
Supremo Tribunal Federal (STF), criticou as decisões recentes do ministro
Alexandre de Moraes, seu antigo colega, na condução dos processos contra o
deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (União-RJ). A pedido da
Procuradoria-Geral da República (PGR), Moraes determinou que o deputado
voltasse a usar tornozeleira eletrônica. A decisão só foi cumprida na tarde
desta quinta-feira, 31, depois que o ministro mandou bloquear as contas do
parlamentar e fixou multa de R$ 15 mil por dia de descumprimento. Silveira
chegou a dormir na Câmara dos Deputados para evitar a instalação do
equipamento. Apesar dos reiterados ataques do deputado ao STF, Marco Aurélio
defendeu que a imposição da tornozeleira a um parlamentar deveria passar pelo
plenário da Câmara. “Esse ato de constrição, repito porque é um ato de
constrição, limita a liberdade de ir e vir, a meu ver, fica submetido ao
colegiado, com a palavra os pares do deputado Daniel Silveira e que eles se
pronunciem de acordo com o figurino legal”, disse em entrevista ao Felipe Vieira,
da BandNews TV.
“Eu não vejo qual é o objetivo. (…) Eu vejo
algo até mesmo humilhante, um deputado federal ter que usar uma tornozeleira.”
As críticas também foram estendidas ao chamado inquérito das fake news, aberto
de ofício pelo então presidente do STF, Dias Toffoli, para investigar ofensas,
ameaças e ataques aos ministros. Daniel Silveira é um dos investigados ao lado
de outros apoiadores bolsonaristas. A instauração não é comum, já que foi feita
com base no regimento interno do Supremo e não a partir de provocação do
Ministério Público Federal. “Isso não se harmoniza com ares democráticos”,
disparou. “Um inquérito que começou errado tende a terminar mal. (…) Não se
levou o inquérito sequer à distribuição. E o relator [Alexandre de Moraes]
aceitou essa designação para assumir o papel, e eu digo com desassombro, de
verdadeiro xerife. Eu temo muito pelas próximas eleições. Porque ele vai
presidir o TSE.”
O ministro aposentado também afirmou que o
momento é de ‘evitar antagonismos indesejáveis às instituições’ [STF e Câmara
dos Deputados]. Marco Aurélio também comentou a animosidade em relação ao
Planalto. “Eu não vejo essa temperança no ar. Ambos os lados estão muito
acirrados. O presidente, em um arroubo de retórica atacando a instituição
Judiciário e o ministro Alexandre de Moraes, infelizmente esquecendo que ele
hoje é integrante do Supremo e também do próprio Tribunal Superior Eleitoral e
que, portanto, não é mais secretário de Segurança Pública, não é mais ministro
da Justiça e não é mais, eu diria mesmo, xerife”, criticou. “É hora de tirar o
pé do acelerador.” Marco Aurélio ainda disse ‘temer muito’ pelas próximas
eleições, quando Moraes estará na presidência do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE). O ministro assume o cargo em agosto em substituição ao colega Edson
Fachin.