Análises iniciais já indicam que o setor de
alimentos será um dos mais afetados com a guerra entre Rússia e Ucrânia,
havendo uma possível disruptura entre oferta e demanda, que tende a deixar
preços mais altos, o que impactará os índices de inflação no Brasil. O assunto
foi tema de análise do Hora H do Agro aqui na Jovem Pan. No caso do café
brasileiro, cerca de 3% das exportações têm a Rússia como destino. A guerra
afetará esse mercado. “Vamos aguardar, ter muita cautela, mas eu acredito que,
no médio prazo, nós ainda vamos ver estes preços melhores novamente”, afirma
Marcelo Moreira, consultor de café da Archer Consulting.
Para carne bovina, por hora, os custos de
produção vão aumentar devido à alta de preço dos grãos, que compõem a ração
animal e dispararam após a invasão russa ao território ucraniano. “Nós vamos
ter um impacto no custo de produção que vai ser causado pelo aumento de
fertilizantes, pelo aumento do preços dos grãos, dólar e todas as outros itens
que estamos esperando aumento nos custos”, aponta Maurício Nogueira, diretor da
Antenagro. A alta do petróleo dá mais competitividade ao etanol e aumenta o
interesse de produção no Brasil. “Se tivesse que hoje dar uma opinião firme
sobre isso, eu diria que nós vamos ter uma melhora no preço do mercado do
açúcar internacional, mas contaminado pelo que o preço da gasolina vai trazer
para o etanol e, consequentemente, em sua arbitragem para o açúcar”, analisa
Arnaldo Correa, diretor Archer Consulting.
Para fertilizantes, o avanço das sanções
internacionais sobre a Rússia pode limitar exportações e gerar risco de oferta
e preço alto aqui no país, já que cerca de 80% dos adubos utilizados nas
lavouras tem a Rússia como um de seus principais fornecedores. “Nós temos a
Bielorrúsia e agora a Rússia com problemas, eu estou falando quase 50% do
cloreto de potássio brasileiro. E nós temos quanto tempo para a safra de soja?
Seis meses, em algumas regiões um pouco mais, significa que o estreitamento da
nossa janela de compras pode prejudicar o fornecimento da matéria prima”, diz
Jeferson Souza, analista de fertilizantes da Agrinvest.
Toda essa apreensão está afastada, por
enquanto, no caso de defensivos, uma vez que Rússia e Ucrânia não têm uma
importância significativa nessa produção. O que é um ponto de alívio neste
momento de incertezas. “Com todas as péssimas notícias que toda guerra traz, a
boa notícia é que em questão de defensivo nós não devemos ver uma piora do
cenário que a gente já viveu nesses últimos 2 anos por conta de toda a
pandemia”, aponta André Dias, sócio diretor da Consultoria Spark.